O que é Ofidismo e seus acidentes ?



Envenenamento provocado pela inoculação de toxinas, através de aparelho inoculador (presas) de serpentes, podendo determinar alterações locais (na região da picada) e sistêmicas. Em conseqüência à absorção do veneno na circulação sangüínea, os mecanismos de ação específicos determinam manifestações clínicas diferenciadas para cada gênero de serpente.
  • Acidente botrópico - Causado por serpentes do gênero Bothrops, determina processo inflamatório no local da picada, com edema tenso, equimose, dor e adenomegalia regional que progridem ao longo do membro acometido; bolhas com conteúdo seroso ou sero-hemorrágico e, eventualmente, necrose cutânea. Sistemicamente, há alteração da coagulação sanguínea e sangramentos espontâneos (gengivorragia, equimoses e hematomas pós-trauma, hematúria).

  • Acidente laquético - Causado por serpentes do gênero Lachesis, apresenta quadro clínico semelhante ao botrópico, acrescido de manifestações decorrentes de estimulação vagal (náuseas, vômitos, diarréia, bradicardia, hipotensão e choque).

  • Acidente crotálico - Causado por serpentes do gênero Crotalus, não leva a alterações locais proeminentes, apenas edema discreto e parestesia; por outro lado, as manifestações sistêmicas são conseqüentes a paralisia neuromuscular (ptose palpebral, distúrbios de acomodação visual, de olfato e paladar, sialorréia, ptose mandibular), rabdomiólise (dores musculares generalizadas, urina escura) e incoagulabilidade sanguínea.  

  • Acidente elapídico - Causado por serpentes do gênero Micrurus, leva a quadro neuroparalítico semelhante ao acidente crotálico, sem outros sinais e sintomas concomitantes. 
  • Acidentes por serpentes não-peçonhentas - Sem gravidade, porém freqüentes, podendo, em algumas circunstâncias, causar edema, dor e equimose na região da picada. 


  • Agentes causais - São 4 os gêneros de serpentes de interesse médico: Bothrops (jararaca, jararacuçu, urutu, caiçaca), Crotalus (cascavel), Lachesis (surucucu, pico-de-jaca) e Micrurus (coral verdadeira). Bothrops e Micrurus são encontrados em todo o país, enquanto que Crotalus é mais freqüentemente encontrado em campos, áreas abertas e secas, e Lachesis habita somente as florestas da Amazônia e da Mata Atlântica. Diversos gêneros de serpentes consideradas não-peçonhentas ou de menor importância médica são encontrados em todo o país, sendo também causa comum de acidentes: Phylodrias (cobra-verde, cobra-cipó), Oxyrhopus (falsa-coral), Waglerophis (boipeva), Helicops (cobra d’água), Eunectes (sucuri) e Boa (jibóia), dentre outras.    
Complicações
  • Acidente botrópico e laquético - Celulite, abscesso, síndrome compartimental, necrose com amputação e/ou seqüela funcional, sangramento maçico, choque e insuficiência renal aguda. 
  • Acidente crotálico - Insuficiência renal aguda e insuficiência respiratória.
  •  Acidente elapídico - Insuficiência respiratória aguda. 

Tratamento

O soro ou antiveneno deve ser específico para tipo por Bothrops, Crotalus e Micrurus (soro antibotrópico, anticrotálico e antielapídico), exceto nas regiões onde coabitam serpentes do gênero Bothrops e Lachesis (soro antibotrópicolaquético). A soroterapia deve ser realizada o mais rapidamente possível e o número de ampolas depende do tipo e da gravidade do acidente. A via de administração é a endovenosa, devendo-se prestar atenção para a ocorrência de manifestações alérgicas durante e logo após a infusão do antiveneno (urticária, estridor laríngeo, angioedema, náuseas e vômitos, broncoespasmo, hipotensão e choque). 
Na vigência de reações imediatas, a soroterapia deve ser interrompida e posteriormente reinstituída após o tratamento da anafilaxia. Hidratação endovenosa deve ser iniciada precocemente para prevenir a insuficiência renal aguda. Não há evidências de que fármacos (anti-inflamatórios, heparina) neutralizem os efeitos dos venenos; o único tratamento medicamentoso efetivo pode ser realizado no acidente elapídico, utilizando-se anticolinesterásico (neostigmina ataque: 0,25 mg adultos ou 0,05mg/kg crianças IV, manutenção: 0,05 a 01 mg/kg IV a cada 4 horas), precedido de atropina IV (0,5 mg/kg adultos, 0,05 mg/kg). Reações tardias (doença do soro) podem ocorrer uma a quatro semanas após a soroterapia, com urticária, febre baixa, artralgia e adenomegalia.
 

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