Os seres humanos estão interferindo na evolução de outras especies
- 07:59
- By simoni
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A evolução das espécies não leva, necessariamente, milhões de anos
para acontecer. Uma nova pesquisa mostrou que um tipo de lagarto nativo
de ilhas artificiais no Brasil desenvolveu uma cabeça maior que seus
primos do continente em apenas 15 anos.
O
grupo de lagartos predadores de insetos, da espécie Gymnodactylus
amarali, isolou-se do resto da população quando áreas rurais foram
isoladas para o fornecimento energia hidrelétrica. Isso levou à extinção
de algumas espécies maiores de lagartos nas novas ilhas, deixando para
as lagartixas a tarefa de comer insetos que normalmente seriam alimento
de espécies maiores. Como resultado, as lagartixas desenvolveram mais a
boca e o crânio, que lhes permitem digerir as presas maiores com
facilidade.
Na verdade, já vimos essa rapidez na evolução, mas ela geralmente se
manifesta em resposta a um desastre natural, como a seca ou as mudanças
climáticas. O que é diferente nessas lagartixas é que elas evoluíram em
resposta direta a uma mudança ambiental promulgada por humanos,
demonstrando o impacto que podemos ter no mundo natural.
O estudo, publicado no PNAS, fornece uma demonstração interessante de
como a evolução funciona, e não apenas porque a mudança tenha ocorrido
enquanto estamos vivos. As lagartixas com cabeças e bocas maiores entre a
colônia original podiam se alimentar de uma gama mais ampla de presas
e, portanto, tinham mais energia para destinar à sobrevivência e à
reprodução. Como resultado, eles se reproduziram mais e seus genes
“cabeçudos” se espalharam em maior proporção entre a geração seguinte.
Isso se repetiu até que as cabeças maiores se tornaram uma
característica comum do grupo.
Mas por que as cabeças maiores dominaram a hereditariedade? Por que
os lagartos mais robustos não tiveram a mesma vantagem evolutiva?
Segundo o estudo, o organismo dos maiores demanda mais energia para
funcionar, embora esses indivíduos tenham a vantagem no tamanho, que
lhes permite caçar e comer mais presas do que as lagartixas menores.
Um dos aspectos mais interessantes do estudo verificou que as
lagartixas em todas as cinco ilhas estudadas desenvolveram esse tipo
maior de cabeça, ainda que estivessem isoladas umas das outras. Isso
sugere que aumentar o tamanho do crânio mantendo a mesma estrutura
corporal é a maneira mais eficaz que a lagartixa tem de acessar uma
dieta mais variada do que a normal para sua espécie, fazendo disso uma
oportunidade que o instinto de sobrevivência não deixa escapar.
Outro exemplo de rápida mudança evolutiva foi verificado em ovelhas
de Soay na ilha de Hirta, em St Kilda, ao largo da costa da Escócia.
Depois que os moradores da ilha foram evacuados em 1930, as ovelhas
puderam viver livres na natureza e, em 25 anos, começaram a reduzir de
tamanho.
A explicação apresentada é que os invernos mais brandos, como
consequência da mudança climática, estão permitindo que os cordeiros
menores sobrevivam ao reduzir o tamanho médio de toda a sua população.
Isso sugere que talvez ainda vejamos muitos outros exemplos de
evolução rápida à medida que o clima continua a se alterar, em resposta
às emissões de gases do efeito estufa. Mas o novo estudo sobre as
lagartixas mostra que a ação humana localizada também pode interferir
nos processos de evolução. Embora a mudança no tamanho da cabeça e da
boca no animal pareça positiva e benigna, devemos lembrar que ela só
surgiu devido à extinção de outras quatro espécies de lagartos na área
inundada. É um lembrete oportuno de que a mudança climática não é a
única questão que precisa ser levada em conta em meio aos impactos
ambientais, mas também a biodiversidade e os processos evolutivos.
Fonte: hypescience
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